Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Nova Gales do Sul (UNSW), em Sydney, Austrália, sugere que as alucinações auditivas em pessoas com esquizofrenia — conhecidas como “ouvir vozes” — podem ocorrer devido a uma falha do cérebro em identificar sua própria fala interna como algo originado de si mesmo.
De acordo com o professor Thomas Whitford, da Escola de Psicologia da UNSW e autor principal da pesquisa, a chamada fala interna é a voz silenciosa que acompanha nossos pensamentos e decisões diárias. “Quando falamos, mesmo mentalmente, o cérebro prevê o som da nossa própria voz e reduz a atividade nas áreas que processam sons externos. Em pessoas que ouvem vozes, essa previsão parece falhar, fazendo com que o cérebro interprete o som como vindo de outra pessoa”, explica.
Os resultados foram publicados na revista científica Schizophrenia Bulletin e podem abrir caminho para novas formas de diagnóstico da esquizofrenia, hoje baseado apenas em avaliação clínica, sem exames laboratoriais que confirmem o quadro.
Para testar a hipótese, os pesquisadores usaram eletroencefalogramas (EEG) em 140 voluntários divididos em três grupos: pessoas com esquizofrenia e alucinações recentes, pacientes com o diagnóstico mas sem alucinações e indivíduos sem o transtorno. Todos ouviram palavras por fones de ouvido enquanto eram instruídos a imaginá-las mentalmente.
Nos participantes sem esquizofrenia, o cérebro reduziu a atividade auditiva quando o som ouvido coincidia com o que imaginavam — um sinal de que o cérebro estava prevendo o estímulo. Já nas pessoas que relatavam “ouvir vozes”, ocorreu o inverso: o córtex auditivo reagiu com mais intensidade, como se o som viesse de uma fonte externa.
“Essa inversão mostra que o mecanismo de previsão do cérebro pode estar comprometido nesses pacientes, levando-os a interpretar a própria voz interna como algo externo”, afirma Whitford.
O grupo sem alucinações apresentou um padrão intermediário, reforçando a teoria de que a confusão entre fala interna e externa está relacionada à gravidade dos sintomas.
Os cientistas agora pretendem investigar se o método pode ajudar a identificar indivíduos com risco elevado de desenvolver psicoses, permitindo diagnósticos e intervenções precoces.
“Compreender as causas biológicas da esquizofrenia é fundamental para criar tratamentos mais eficazes e personalizados”, conclui Whitford.
Via Globo